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Bela Vista-MS Domingo, 05 de Maio de 2024

Uma pandemia com repercussões, nas relações amorosas, de trabalho e políticas, é o nosso atual “nó górdio”. Que é uma metáfora que define um problema insolúvel. A origem da expressão remete ao sec VIII a.C. Quando Górdio, um humilde camponês assumiu o reinado de Frígia, para não esquecer sua origem pobre, deixou sua carroça amarrada a uma coluna, no Templo de Zeus, com um nó impossivel de ser desatado. Diz a lenda que esse nó foi desatado por Alexandre o Grande, com um golpe de espada. Por isso a expressão “cortar o nó górdio” significa resolver uma questão complexa de maneira simples e eficaz. Assim em meio a temores e incertezas, a ameaça do novo coronavírus chegou ao Brasil e continua alimentando o que há de melhor (e pior) na humanidade.

Sabemos que, no dia 2 de março de 2019, quando todo mundo se preocupava com outras situações, os biólogos chineses Yi Fan e Peng Zhou do instituto de virologia de Wuhan publicou um artigo que foi pouco lido, inclusive pela imprensa, mas que no parágrafo inicial tem um viés premonitório “É altamente provável que surtos futuros de coronavírus se originem de morcegos e há grande probabilidade que ocorra na China. E em dez meses a previsão aconteceria, apresentando um quadro misterioso vindo da mesma família da epidemia de SARS em 2002 e Mers em 2012.

Isso também me lembrou do escritor Gabriel Garcia Marques, falecido na Cidade do México, em 2014. quando dizia “ Dou valor as coisas, não por aquilo que valem mas pelo que significam Nascido no povoado de Aracataca zona caribenha da Colômbia Garcia presenteou-nos com uma lista de contos e romances, tendo como obra prima Cem anos de solidão (1967) que era ambientado na mítica aldeia de Macondo. Na verdade este texto foi escrito em dias de grande turbulência em função das dívidas que assolavam sua família. ( E quantas famílias sentem na pele, esse sentimento, neste momento)

Na época, era tanto, que para enviar o original datilografado para a Argentina o escritor precisou penhorar seu aquecedor elétrico. Todavia os méritos da espera chegaram em 1972 ,momento em que foi laureado com o Prêmio Latino-americano de romance Rômulo Gallegos e em 1982 com o Prêmio Nobel de Literatura, fato que ficou marcado por ter comparecido a cerimônia em Estocolmo trajando o liqui-liqui,o tradicional traje caribenho.

Naquela ocasião em um discurso eivado de sentimentos políticos, definiu suas narrativas como “uma realidade que não é a do papel, mas que vive conosco e determina cada instante de nossas incontáveis mortes, todos os dias, e que nutre uma fonte de criatividade insaciável, cheia de tristeza e beleza,da qual este errante e nostálgico colombiano não passa de mais um, escolhido pelo acaso”. Evidentemente, que o acaso não vem tão por acaso assimA glória vem depois de persistência, muitos “senãos’ e muitos desejos tolhidos. Aliás um desejo que era tão urgente, e que de repente se torna um recado de Deus.

E, por mais que estejamos adestrados pra vida, existe sempre  e sempre haverá: o fiel arrebatamento do desejo; e é neste momento que trava-se a luta do rochedo contra o mar. Precisamos da movimentação de todos para desatar esse nó. Os bancos facilitarem renegociações, os empréstimos, os empresários esperarem um pouco mais, para dispensarem seus funcionários, as financeiras não olharem apenas para o lucro, as pessoas não deixarem de ter o cuidado que estavam tendo, respeitando o toque de recolher, os bancos estavam fechados, cheques voltaram, pessoas ficaram sem combustível, os idosos apreensivos com seus consignados, preocupados com a falta das vacinas, irritadas com as filas e as cobranças e doentes or diversos motivos,inclusive os pré-existentes.

Entretanto, estamos tendo uma oportunidade de ouro pra pensar se estávamos no caminho certo, se estamos dando valor ao que tem preço, ou estamos colocando preço no que não tem valor. É hora de reconciliar, valorizar o pão, seu filho, seu pai, sua mãe, seu caso, seu contato, seu gato, seu ar, o seu por-do-sol, e enfim:sua vida. E parafraseando-o: É o “Amor nos tempos do Coronavírus!”

O autor Rosildo Barcellos é articulista