O Ministério Público Militar apresentou denúncia contra vários militares envolvidos na morte do soldado Vinícius Ibanez Riquelme, de 19 anos, e em agressões a outros recrutas durante um treinamento do Exército em Bela Vista. Vinícius faleceu no dia 27 de abril, na Santa Casa de Campo Grande, após passar mal durante a atividade.
Entre os denunciados estão o 2º Tenente do Exército, Thiago Mauri Marçal, e os 3º Sargentos Victor Augusto Albuquerque Barros, Gustavo Doré Gonçalves, Arthur Castelani Lopes e Breno Gonçalves Salles. Também foram acusados os cabos do Exército Lucas Romero Silvestre e Everton Marim Figueiredo, além dos Soldados Luiz Eduardo Coronel Siqueira, Weverton da Silva Dias, Cleison Rodrigues Marinho e Marcos Vinícius Irala dos Santos.
Gustavo Doré Gonçalves foi especificamente acusado de maus-tratos, enquanto Lucas Romero Silvestre foi denunciado por maus-tratos com qualificadora de morte, e Everton Marim Figueiredo foi acusado de abuso dos meios de correção, instrução e disciplina. A denúncia foi apresentada pelo promotor da Justiça Militar, Marcos José Pinto, conforme o site Alvorada Informa.
A denúncia do promotor destaca que a materialidade dos fatos foi comprovada por fotos que mostram as mãos queimadas dos recrutas vítimas das agressões. Segundo o Ministério Público, os acusados submeteram os recrutas a condições degradantes, forçando-os a comer alho e cebola crus, agredindo-os com galhos de árvore e obrigando-os a rastejar.
Os superiores hierárquicos também teriam ridicularizado um recruta, colando um adesivo em seu capacete com a inscrição “Cuidado-Frágil” devido à orientação sexual. O nome do soldado não foi divulgado por questões de privacidade.
O promotor reforça que a causa da morte de Vinícius está detalhada na certidão de óbito, que aponta para “choque, necrose centro-lobular, distúrbio hidro-eletrolítico, desidratação, síndrome infecciosa e realização de exercícios físicos rigorosos”. A denúncia ainda afirma que o Cabo Lucas Romero Silvestre teve um papel crucial na morte do soldado ao impedir que ele se alimentasse.
Marcos José Pinto sublinha que os instrutores têm o dever de seguir os regulamentos e a finalidade dos exercícios militares, agindo com dignidade e justiça para formar soldados que representarão as Forças Armadas. A prática de maus-tratos é inadmissível e atinge não só as vítimas, mas também a imagem do Estado e das Forças Armadas.
A denúncia será analisada pela Justiça Militar, com o processo tramitando na Auditoria da 9ª Circunscrição Judiciária Militar do Mato Grosso do Sul, sob a presidência do juiz Jorge Luiz de Oliveira da Silva.
Morte de Vinícius
O soldado Vinicius Ibanez Riquelme, de 19 anos, morreu no dia 27 de abril após passar mal durante um exercício militar. Caso aconteceu no 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado em Bela Vista.
Vinicius participava de um treinamento de longa duração, nesta sexta-feira (26), quando começou a passar mal, segundo o site Fronteira News. A ação é um acampamento com vários dias no campo simulando ações de combate, com exercícios e atividades de primeiros socorros.
Na noite anterior, o jovem passou mal e foi encaminhado para a enfermaria do 10º Regimento de Cavalaria Antônio João, devido à gravidade, foi levado ao Hospital São Vicente de Paula, e encaminhado em vaga zero para Campo Grande, em ambulância do município de Bela Vista, onde não resistiu e faleceu.
A mãe do jovem, Mariza, abalada e muito triste, comentou o caso nas redes sociais, na época. “Estamos passando por um momento difícil, não acredito que entreguei meu filho vivo para o exército e recebo ele dentro de um caixão. Não é justo. Quero justiça. Isso não pode ficar impune. O Vini era um menino muito educado, meu companheiro, minha vida, e agora como fica minha vida”, desabafou a mãe, que cobra por investigação e que os culpados sejam punidos.
Laudo apontou que a morte de Vinícius ocorreu por causas de broncopneumonia acentuada, necrose centro-lobular no fígado, necrose tubular aguda no rim e desidratação. Outro fator apontado foi um choque séptico.
Choque séptico é a sepse que causa uma pressão arterial perigosamente baixa (choque). A condição é resultado de uma infecção generalizada que se alastra pelo corpo, rapidamente, afetando vários órgãos, que param de funcionar e levam a vítima à morte.
Ainda foi apontada como causa contributiva do óbito a exaustão física, conforme o site Fronteira News. O Edema pulmonar também contribuiu em levar à morte por insuficiência respiratória aguda.
Mães denunciaram tortura
Após a morte de Vinícius, mães de recrutas denunciaram diversas práticas de tortura e cárcere privado na unidade do Exército. Segundo alguns relatos, alguns jovens não conseguiram sair do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado, o que classificam como cárcere.
Buscando ajuda, familiares do falecido, e também familiares de outros soldados, os quais também teriam sido vítimas de tortura e estariam sendo mantidos em cárcere privado, denunciaram o caso a movimentos como Juristas pela Democracia – MS e ADJC (Advogados e Advogadas em Defesa Democracia, Justiça e Cidadania). Nas entidades, advogados se mobilizam pela apuração suspeita da morte de soldado em treinamento militar.
Os advogados Giselle Marques, coordenadora dos Juristas pela Democracia, e Lairson Palermo, do ADJC, decidiram protocolar um pedido de ajuda à OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil Seccional de Mato Grosso do Sul). A representação deve ser protocolada na manhã desta quinta-feira (9), requerendo a adoção de providências urgentes, e o empenho pessoal da presidência da instituição na apuração dos fatos.