Muito se ouve falar sobre a enfermagem. “Enfermagem por amor”; “auxiliar do médico”; “se tivesse estudado um pouco mais teria se tornado médico”; “é um dom”; “heróis na pandemia” e agora “vilões da economia”, capazes de provocar o fechamento de hospitais por conta do piso salarial. A enfermagem é uma profissão autônoma regulamentada pela Lei nº 7.498, de junho de 1986 e, quando se ouve frases como as citadas acima, percebe-se que são ideias culturalmente impostas.
Atualmente, a enfermagem é a maior categoria da área da saúde no Brasil, contando com mais de 2,5 milhões de profissionais divididos em técnicos e enfermeiros. Os técnicos possuem atribuições que vão desde cuidados de higiene e conforto até cuidados de saúde intermediários. Já aos enfermeiros cabe a realização de atividades privativas, como sondagens, avaliação do estado do paciente, gestão da equipe, serviços e insumos, entre outras responsabilidades.
O destaque que a enfermagem tem recebido nos últimos anos está relacionado, em grande parte, à pandemia de COVID-19. Entretanto, muito antes, já se travou uma batalha para implementar o piso salarial. Afinal, é fundamental estabelecer regulamentações e parâmetros para os valores a serem pagos pelas instituições.
É de extrema importância compreendermos a enfermagem como a profissão que de fato é: parte de uma equipe de saúde que se complementa, em prol da assistência qualificada do paciente. A subordinação da enfermagem à equipe médica tem suas raízes em um contexto histórico, no qual a medicina é vista como profissão desde 1220 e a enfermagem, desde 1860.
Neste momento, somos rotulados como vilões e culpados pela possibilidade de fechamento dos hospitais. No entanto, antes de nos culparem, é necessário levantar algumas questões: é justo que a enfermagem pague a conta? É correto que o enfermeiro receba 2 mil reais e o técnico de enfermagem, em alguns locais do país, receba mil reais depois de passar seis horas por dia, seis dias por semana, assistindo aos pacientes?
O enfermeiro está totalmente alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 3, da Organização das Nações Unidas: “Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades”. Por isso, o papel que desempenhamos merece o devido reconhecimento quando se trata de salários justos e condições dignas de trabalho. Entretanto, essa discussão fica para outro momento. Não é porque exercemos nossa profissão com amor que os boletos se pagam por si só.
Débora Biffi, docente do curso de Enfermagem da Estácio
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