A deficiência física está na minha vida desde que eu nasci, quando meus pais descobriram que teriam um filho com mielomeningocele, deficiência que compromete a mobilidade e me faz ter que usar a cadeira de rodas. A Medicina está há 11 anos, desde que tomei para mim o árduo desafio de seguir essa carreira.
De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), atualmente, o Brasil conta com mais de 546 mil médicos ativos no mercado. Destes, de acordo com outra pesquisa do CFM, 512 possuem algum tipo de deficiência física ou intelectual. É menos de 0.0,93%.
Assim como a Medicina muda a vida de pessoas com deficiência todos os dias, com terapias, diagnósticos, tratamentos e reabilitações, tornar-se médico com deficiência representou, para mim, o sonho de impactar, também, a Medicina. A pessoa com deficiência não deve ser vista somente como paciente e dependente de cuidados, mas, ainda, como profissional, cientista, técnico, oferecendo seus dons e habilidades para servir a comunidade.
Ainda que a falta de acessibilidade e descrença nas habilidades das pessoas com deficiência atrapalhe diretamente na carreira, prezei, sempre, por oferecer o melhor atendimento dentro das possibilidades, atuando com respeito ao próximo e profundo interesse por cada paciente. A ética é fundamental em todos os contextos, e, na medicina, é a base.
Vivemos em um mundo hostil, no qual as pessoas são julgadas pelas aparências, em uma pré-concepção da sua capacidade baseada na imagem. Com isso, já antecipo que não é fácil ser um médico com deficiência e as situações de descrédito por conta da deficiência acontecem com frequência. Em qualquer ofício, um profissional com deficiência precisa trabalhar o triplo para provar o mesmo valor que um médico sem deficiência.
O combustível para o trabalho são os pacientes. Eles renovam as minhas forças e trazem a vontade de me dedicar ainda mais para alcançar resultados satisfatórios e até mesmo extraordinários, quando possível. A deficiência física não abstrai o amor e dedicação integral à profissão, pelo contrário, dão a vivência e sensibilidade necessária para entender a singularidade das histórias de cada pessoa que entra em meu consultório. É um diferencial.
É uma honra abrir caminho para que futuros médicos com deficiência integrem o mercado de trabalho e sejam exemplos na profissão. O pioneirismo é um desafio, mas, também, é uma missão. Sonho com uma Medicina mais plural, em que eu não seja mais uma exceção e história de superação, mas que outras pessoas com deficiência também encontrem o seu espaço para atuarem nesta profissão tão nobre. Feliz dia do médico!
*Lucas Pacini é Médico Geral e possui deficiência física. Nas redes sociais (@drlucaspacini) compartilha informações sobre saúde e bem-estar.