A harmoniosa relação entre identidade indígena e fé católica no mais religioso e resiliente dos países sul-americanos
A Virgem Maria entre os índios
Assim como no México, onde Nossa Senhora de Guadalupe se apresentou com características indígenas para o índio São João Diego, ela também se mostrou como indígena para os índios da região do atual Paraguai.
Era o final do século XVI. Um índio converso, escultor de profissão, subiu ao topo de uma colina e se encontrou com membros hostis de uma tribo mbayá, dos quais conseguiu escapar ocultando-se atrás de um tronco. Nos momentos angustiantes que passou no esconderijo, ele pediu à Virgem Maria que intercedesse e lhe obtivesse a graça de sair com vida. Mais tarde, já livre do risco, ele esculpiu uma imagem da Mãe de Deus com o mesmo tronco que o havia protegido, em cumprimento à promessa que fizera à Virgem Santíssima.
Em 1603, o lago Tapaicuá transbordou e alagou todo o vale do Pirayu, arrasando tudo pelo caminho – inclusive a imagem da Virgem. Quando as as águas retrocederam, porém, apareceu milagrosamente a imagem que o índio tinha esculpido.
Os locais começaram a espalhar a sua devoção e a invocá-la como “a Virgem dos Milagres”. Um dos devotos, José, carpinteiro de ofício, construiu para ela uma modesta capelinha: foram as origens da veneração à Virgem de Caacupé, cuja pequena imagem, de pouco mais de cinquenta centímetros, tem os pés descansando sobre uma esfera, rodeada de bandagem branca de seda.
Sua festa é celebrada no dia 8 de dezembro, quando peregrinos aos milhares vão ao santuário demonstrar amor e gratidão a “la Virgen Azul del Paraguay“, Mãe de Deus e de todos nós.
É significativo, ainda, observar que algumas representações da Virgem de Caacupé combinam elementos guaranis com elementos europeus, os dois principais formadores do povo paraguaio, conforme se constata na imagem abaixo, cujos olhos são azuis: