Projeto de transformação sustentável. O lodo de esgoto e esterco bovino viram fertilizante orgânico para agricultores familiares tradicionais, assentados, quilombolas e indígenas.
Uma parceria inovadora está transformando a agricultura familiar no Mato Grosso do Sul. Em um esforço conjunto, o Governo do Estado, por meio da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário) e a Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), o Grupo Organics, e a AE MS Pantanal (empresa criada a partir da parceria público-privada entre Sanesul e Águas Guariroba) lançaram um projeto que prevê a entrega de biofertilizante orgânico para pequenos agricultores de Mato Grosso do Sul.
O primeiro repasse de 150 toneladas de biofertilizante, batizado de Fertibio-MS marcou o início de uma iniciativa que pretende distribuir pelo menos 1.200 toneladas por ano, ou seja, 100 toneladas/mês. O projeto, resultado de dois anos de tratativas e estudos entre o poder público e o privado, promete revolucionar a agricultura familiar na região. Só nesta primeira fase estão sendo atendidos agricultores familiares de Campo Grande, Jaraguari, Sidrolândia, Terenos e Corguinho.
No Polo de Produção Orgânico em Campo Grande, o produtor Jair Azambuja que estava preocupado com a escassez de recursos, vê a chegada do Fertibio-MS como um presente valioso. Isso porque com outras prioridades em caixa e o estoque quase vazio de insumo, produto similar utilizado em suas hortas, a carga de biofertilizante orgânico veio na hora certa.
“É uma junção de benefícios porque com essa carga de 12 toneladas doadas atende às 10 toneladas que usamos anualmente, sendo que pagamos 900 reais pela tonelada do produto mais o frete, chegamos em mil reais, ou seja, 10 mil reais só com fertilizante. É uma senhora economia”, diz Azambuja que vê também o ganho no tempo de produção porque “estávamos comprando de outros estados e isso encarece na produção que acaba sendo repassada ao consumidor. Tudo isso porque o produtor local de insumos de que tínhamos acesso era preciso fazer compostagem e isso levava três meses até que pudéssemos aplicar nos canteiros”.
Para quem conhece bem as demandas e a realidade no campo do agricultor familiar, como o engenheiro agrônomo e coordenador da regional da Agraer de Campo Grande, Valdecir Batista, a chegada gratuita do biofertilizante é um grande benefício em termos de custo e produção, permitindo economia em outros insumos e aumentando a eficiência na colheita.
“Estamos falando de um produto com Ph acima de 7, que é um Ph básico, automaticamente eu tenho menos demanda de cálcio. A cultura do tomate, por exemplo, exige que o produtor adquira fontes de nutrientes que são extremamente caras, com o biofertilizante ele pode reduzir essa aquisição e beneficiar tanto a renda do produtor quanto o valor final dos alimentos que chegam até o consumidor”.
O Fertibio-MS é composto por esterco bovino e lodo das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) operadas pela Ambiental MS Pantanal. Esse material é trabalhado e processado pela empresa Organics, transformando-o em um fertilizante apto para uso agrícola. O secretário da Semadesc, Jaime Verruck, enfatizou a importância desta alternativa que minimiza os impactos ambientais e beneficia diretamente as famílias que dependem da agricultura.
“Esse lodo, até então, era destinado 100% aos aterros sanitários, o que reduzia a vida útil desses locais e gerava custos adicionais. Com a parceria com a Organics, identificamos uma possibilidade técnica para transformar esse lodo em um fertilizante totalmente credenciado e apto tanto para uso comercial quanto para os produtores da agricultura familiar,” destaca o secretário.
Osvaldo Miaki, diretor executivo da Organics Biofertilizantes, ressaltou que além da preocupação ambiental, o projeto atende às exigências de mercado quanto ao processo de produção e cultivo de alimentos previstos em lei. “Foi feito um trabalho junto com a Embrapa para comprovar a sanitização do biofertilizante Os testes foram acompanhados e os resultados aprovados pelo Imasul e, também, pelo Ministério da Agricultura,” explica.
Paulo Antunes, presidente da MS Pantanal, destacou que a iniciativa é uma solução inovadora para um problema antigo: a destinação adequada dos biossólidos gerados nas ETEs, e que o projeto prevê a doação de pelo menos 20% do biofertilizante.
“Com este projeto, Mato Grosso do Sul se torna o único estado do Brasil a utilizar integralmente o lodo das ETEs de sua concessionária estadual de água e esgoto de forma totalmente sustentável e circular. Essa ação tem potencial para ser referência em todo o país,” afirma.
Agora, os técnicos da Agraer de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) acompanharam o desenvolvimento dos trabalhos com o fertilizante da porteira para dentro dos sítios. A meta é que os resultados sirvam para propagar o interesse e adesão de mais agricultores familiares pelo produto.
Fonte: Ascom Agraer