Alexander von Humboldt foi um cientista notável cujas ideias pioneiras e perspicácia científica transcendem seu tempo. Já no início do século XIX, Humboldt advertiu sobre as consequências adversas das atividades humanas sobre o meio ambiente, que poderiam provocar impactos imprevisíveis sobre as “futuras gerações”. Ele revolucionou nossa compreensão do mundo natural e foi um dos primeiros a conceber a ideia de um sistema climático global interconectado, um conceito que prenunciava as modernas preocupações com as mudanças climáticas.
Nascido em 1769 em Berlim, Prússia, Humboldt foi dotado de uma curiosidade insaciável que o levou a estudar uma ampla gama de disciplinas científicas. Desde geografia e antropologia até biologia e geologia, ele aplicava uma abordagem holística que era rara em sua época. Humboldt viu a natureza como uma rede interconectada de vida, onde tudo tinha um propósito e estava em harmonia.
Viajou em expedição por todos os continentes e esteve inclusive no Brasil, Bolívia, Paraguai, Venezuela, Cuba e outras regiões. A expedição à América Latina, que durou de 1799 a 1804, foi um ponto de virada em sua carreira e para a ciência em geral. Durante essa viagem, Humboldt escalou picos andinos, explorou selvas e rios, e coletou uma quantidade sem precedentes de dados científicos. Suas observações detalhadas ajudaram a estabelecer as bases para a biogeografia e despertaram sua preocupação com o impacto humano no ambiente natural.
Humboldt foi particularmente tocado pela devastação ambiental que testemunhou nas plantações coloniais, onde vastas áreas de floresta foram derrubadas e queimadas para a agricultura. Ele observou como essas práticas destrutivas alteravam o clima local e afetavam a biodiversidade, insights que o levaram a criticar abertamente a exploração irresponsável dos recursos naturais.
De volta à Europa, Humboldt se tornou um defensor fervoroso da ciência e da educação ambiental. Ele escreveu extensivamente, com sua obra mais notável sendo o “Kosmos”, uma tentativa de unificar os diversos ramos do conhecimento científico e apresentar uma visão holística do universo. Esse trabalho influenciou profundamente a ciência e o pensamento ambiental nos séculos seguintes.
Além de suas contribuições científicas, Humboldt também influenciou políticos e pensadores de sua época, como seu amigo Simón Bolívar. Ele manteve correspondência com líderes como Thomas Jefferson e foi mentor de jovens cientistas, como Charles Darwin, Henry David Thoreau e John Muir espalhando sua visão de um mundo onde a humanidade reconhece e respeita os limites da natureza.
Humboldt foi um homem à frente de seu tempo não apenas em suas descobertas científicas, mas também em sua preocupação com as futuras gerações. Ele viu claramente que o desrespeito pelas forças naturais poderia levar a um desequilíbrio desastroso, uma mensagem que ecoa com urgência até hoje, quando assistimos com tristeza as catástrofes no Rio Grande do Sul e em outras regiões do país.
Mesmo após sua morte em 1859, o legado de Humboldt continua a inspirar ambientalistas e cientistas. Sua vida é um testemunho do poder da observação científica combinada com uma preocupação profunda pelo bem-estar do planeta.
Hoje, enfrentamos desafios ambientais globais que Humboldt previu com assustadora precisão há mais de 200 anos. Seu trabalho nos lembra da necessidade crítica de entender e agir em prol do sistema climático global, reconhecendo a interconexão de todas as formas de vida.
Finalmente, a mensagem de Humboldt é clara: sempre é tempo de corrigir nossos erros e tratar a natureza com o respeito e a reverência que ela merece. Em uma era de mudanças climáticas aceleradas e perda de biodiversidade, suas palavras servem como um alerta urgente e um chamado à ação para todas as gerações.
O trabalho revolucionário de Humboldt foi redescoberto e trazido à contemporaneidade pela historiadora e escritora Andrea Wulf em seu livro aclamado pela crítica, “A Invenção da Natureza”. Wulf, nascida na Índia e criada na Alemanha, expõe a vida extraordinária de Humboldt, esse herói desconhecido da ciência e da exploração, cujas aventuras ao redor do mundo não apenas despertaram inveja em Napoleão Bonaparte, mas também inspiraram amigos como Simón Bolívar em sua revolução e Charles Darwin a zarpar com seu navio Beagle para realizar as suas grandes descobertas e teorias.
P.S. Gratidão ao empresário Beto Pereira (Comper) pelo exemplar desse grandioso livro.
*Wilson Aquino – Jornalista e Professor