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Bela Vista-MS Quinta-Feira, 28 de Março de 2024

O aumento da violência nas escolas reflete uma crise de autoridade familiar.

“Os pais e as mães que não exerceram sua autoridade sobre os filhos tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os para que outros façam o que deveriam ter feito. O abandono da responsabilidade retira dos pais a possibilidade de protestar e de exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente não tem o direito de se queixar .” – Fernando Savater.

Especialistas em educação defenderam que o aumento da violência escolar se deve, em parte, a uma crise de autoridade familiar, pelo fato de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores. Os participantes no encontro \’Família e Escola: um espaço de convivência\’, dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideraram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas.

É verdade que as crianças não encontram em casa a figura de autoridade, que é um elemento fundamental para o seu crescimento. O filósofo Fernando Savater, presente neste encontro disse precisamente isso.

As famílias não são o que eram antes e hoje o único meio com que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa e o computador que, parece estar apostado em substituir a televisão.

A verdade é que os pais continuam a não querer assumir qualquer autoridade, preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos seja alegre e sem conflitos e empurram o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores.

No entanto, quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os sem problemas.

O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se queixar. Há muitos professores que são vítimas nas mãos dos alunos. Todos sabemos isso e já temos tido notícias bem preocupantes a esse respeito.

Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que ao pagar uma escola deixa de ser necessário impor responsabilidade. A liberdade exige uma componente de disciplina que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade. A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara, e é urgente que os pais transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, uma oportunidade e um privilégio como esse.

Em algum momento das suas vidas, as crianças vão confrontar-se com a disciplina e então vão verificar o seu desajustamento social. Eu penso que é essencial perceber que as crianças não são hoje mais violentas ou mais indisciplinadas do que antes; o problema é que têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos, quer sejam os pais, quer sejam os professores.

Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incômodo. Isso leva-os à rebeldia.

Daí que, mais do que reformas dos códigos legislativos ou das normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, porque mais vale dar uma palmada, no momento certo do que permitir as situações que depois se criam.

—Um dos primeiros objetivos da educação é preservar os filhos de seus pais. — disse, arrancando risadas — não me parece bom, portanto, submeter permanentemente os filhos aos pais. A escola ensina muito mais do que os conteúdos aplicados nela, e sim a conviver com pessoas que não temos razões para gostar, e que às vezes até não gostamos, mas que precisamos respeitar.

Eu não sei exatamente se isto tem uma solução mais ou menos recomendável, mas penso que a supressão de privilégios e o alargamento dos deveres pode ser uma delas. Tem de se começar por algum lado.

A escola não pode transformar-se em campo de batalhas entre professores e alunos nem tão pouco passar a ser um espaço prisional onde os alunos se sintam constrangidos e marginalizados em relação à sociedade de que fazem parte. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Penso que tudo deve começar na educação e no respeito pelos outros, nunca esquecendo o respeito por si próprios. A educação para a cidadania é um dever e um objectivo a atingir urgentemente, antes que seja demasiado tarde. Para isso, a política do Ministério de Educação tem de mudar assim como toda a política que agora quer subjugar toda a comunidade educativa, sob pena de a indisciplina na escola se transformar numa realidade assustadora em todo o país.

 

escrito por Luis Ferreira