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Bela Vista-MS Domingo, 05 de Maio de 2024
CURITIBA – A vereadora Carla Ayres (PT) foi puxada pelo braço, abraçada e beijada à força pelo parlamentar Marquinhos da Silva (PSC) durante a sessão desta quarta-feira (7) na Câmara Municipal de Florianópolis.

O caso aconteceu dentro do próprio plenário, depois de ela se manifestar sobre um projeto de lei, e será denunciado como importunação sexual e violência política de gênero. Silva pediu desculpas.

Ayres voltava de seu discurso na tribuna da Casa e, quando passou ao lado de Silva, ele a puxou pelo braço, a agarrou por trás e lhe deu um beijo no rosto. No vídeo, é possível ver que a vereadora prontamente se desvencilhou do parlamentar, completamente incomodada.


VÍDEO: VEREADOR AGARRA COLEGA NO PLENÁRIO DA CÂMARA DE FLORIANÓPOLIS


Ela conta que os parlamentares estavam discutindo sobre um projeto sobre o qual Silva nem chegou a se pronunciar. “Ele estava no plenário rindo, como se estivesse numa torcida e como se eu estivesse perdendo um debate ou um jogo”, relata.

Quando desceu da tribuna e passou por Silva, ele fez uma gracinha. “Não lembro exatamente o que ele disse, mas foi algo do tipo ‘perdeu’. Falei que aquilo era algo sério, então ele me puxou pelo braço. Quando dei as costas, ele pratica aquela cena indecorosa. E continuou rindo, dizendo que estava tudo bem. Foi totalmente constrangedor”, lamenta.

Segundo ela, logo depois, ainda no plenário, Silva lhe pediu desculpas. “Mas não se trata disso, não é uma postura parlamentar. Vendo a cena, é nojenta.”

A vereadora afirma que só depois, quando viu o vídeo, se deu conta do simbolismo da cena, especialmente por ela ser uma mulher lésbica.

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Ayres atribui a violência a um processo de estruturação do machismo “que garante aos homens lidarem com as mulheres como desejam, proferirem palavras e acessarem os nossos corpos sem pedir autorização e sem ter noção que estão cometendo uma profunda invasão de privacidade”.

A vereadora ressalta que houve ainda quebra de decoro parlamentar, o que, segundo ela, tem ocorrido cada vez mais na política brasileira.

“Eles estão sendo confrontados a lidar com a realidade das mulheres no poder e, mesmo que se diga que não é intencional, o machismo autoriza os homens a fazerem isso”, diz.

Apesar de destacar que a violência contra as mulheres foi naturalizada nos últimos anos, com discursos machistas do governo Bolsonaro, ela afirma que vários colegas parlamentares, inclusive bolsonaristas, lhe prestaram solidariedade após o assédio.

“Não podemos fazer de conta que não é nada e lidar com isso como uma brincadeira. Precisamos pedir medidas mais duras”, ressalta.

A vereadora entrou com pedido de quebra de decoro parlamentar na Câmara e irá registrar um boletim de ocorrência contra Silva por importunação sexual e violência política de gênero.

Em nota, o vereador Marquinhos Silva disse receber com tristeza a acusação de assédio de Ayres, por quem, apesar de divergências políticas, sempre demonstrou “imenso carinho e respeito, dentro e fora do plenário”.

“Reconheço meu erro em abordar a vereadora de maneira inconveniente, sem a sua autorização, e diante disso peço minhas sinceras desculpas a ela e a todas as mulheres que se sentiram ofendidas pelo meu ato. Ressalto que em nenhum momento agi de maneira má-intencionada (sic), porém, fui infeliz em invadir o seu espaço”, afirma.

No texto, ele diz que levará a atitude “equivocada” como um aprendizado, “repudiando toda forma de assédio”.

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O fato ocorreu na mesma sessão em que foi aprovada a criação da Procuradoria da Mulher na Câmara de Florianópolis, que vai receber, analisar e encaminhar denúncias de violência e discriminação contra as mulheres. A proposta foi apresentada pela Comissão da Mulher, na época presidida por Carla Ayres.

Em nota, a Câmara Municipal de Florianópolis diz que repudia o ato e reafirma sua atuação no combate contínuo de toda e qualquer ação de violência contra as mulheres.

“Sobre o caso denunciado, tão logo o processo chegue à Mesa Diretora, será realizada a apuração dos fatos seguindo os ritos administrativos disciplinares desta Casa Legislativa.”

MAUREN LUC
FOLHA DE S.PAULO