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Bela Vista-MS Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024

 

No mundo dos negócios, a inovação é considerada um escudo contra ameaças concorrenciais.Em uma sociedade em que os desafios da produção em escala já foram superados, a capacidade de inovar emerge como diferencial de sucesso.  Afinal, não é mais suficiente fornecer produtos e serviços impecavelmente padronizados e à prova de defeitos.  É cada vez mais exigido que eles reflitam as necessidades, os anseios e as perspectivas de consumidores ávidos por se tornarem sujeitos.

Um dos ramos de negócios que ilustram tal transformação é a indústria da televisão.  Na última década, os números do IBOPE vêm caindo consistentemente, como um reflexo desse fenômeno mais amplo, segundo o qual cada expectador quer ser único e, mais ainda, autônomo.  Ele não se satisfaz mais com o conteúdo que lhe é imposto na telinha.  Ele deseja escolher ao que assistir e em que momento.  É então que as alternativas on-demande via internetse tornam uma ameaça para a TV tradicional.Uma vez que as oportunidades trazidas pela tecnologia aumentam vertiginosamente a quantidade de concorrentes potenciais, um desafio maior se impõe sobre a produção de conteúdo.  Hoje, qualquer um é capaz de produzir um vídeo e veiculá-lo na rede.  Ruíram-se as barreiras tecnológicas que protegiam o monopólio sobre a transmissão.

É preciso inovar.  Mas o que é preciso para isso?  Criatividade.  Iniciativa.  E, principalmente, autonomia.  Mesmo assim, autonomia de poucos não gera a inovação de que precisamos hoje.  A figura do herói – aquele que, se não nasce com autonomia, a conquista – tem um raio de ação limitado.  Inovação, nas proporções que desejamos hoje, tem que partir de muitos.  Muitos sujeitos autônomos, em cooperação, em prol de um bem-comum.  Este último é a medida de desempenho de uma inovação.  Os grandes sucessos são as inovações que traduzem demandas compartilhadas– e não aquelas meramente originais ou tecnologicamente sofisticadas, por mais que sejam geniais. Uma maneira de fazer o esforço de inovação voltar-se para o “bem-comum” é congregar a contribuição de várias pessoas.

Um exemplo.  Durante meses, o país parou para assistir à “Avenida Brasil”, por onde desfilavam – não heróis – mas protagonistas.  Foi uma novela praticamente sem coadjuvantes.  Todos os personagens tinham uma história, uma voz, um algo mais que os fazia especiais.  A construção dos personagens e a maneira como refletiam a vida real talvez fosse o que mais nos atraía para a frente da tela.  Inegavelmente, aquele foi um exemplo de inovação na teledramaturgia.

Um dos segredos para esse resultado pode ser percebido na forma de atuação da diretora da novela: autonomia e cooperação.  Primeiro, o autor lhe deu talautonomiaque, nos últimos capítulos, nem mais detalhava a cena, deixando isso a cargo do julgamento da diretora.  Segundo, desobedecendo à convenção, a diretora incentivava improvisos dos atores e convidava a equipe técnica a dar palpites.  Ela decidia, assim, pelo caminho do estímulo àcooperação entre os envolvidos na construção da obra.Tudo isso sem abrir mão de sua autoridade.  Ao contrário, ela a exercia no sentido mais puro do termo: “fazer crescer”. Sua inovação “organizacional” permitiu a inovação no modo de criação.Era como se a população brasileira, em sua impressionante diversidade, estivesse representada em cada membro da equipe e do elenco.  Como consequência, os brasileiros se identificaram.  Sentimo-nos prestigiados: nos tornávamos protagonistas!

(*) Marcia Esteves Agostinho é Doutora em Engenharia de Produção e atua como professora e pesquisadora na Universidade Estácio de Sá

(Marciadecastro1994@gmail.com)