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Bela Vista-MS Quinta-Feira, 28 de Março de 2024

Militares do Exército sobrevoam e montam postos em propriedades rurais de Antônio João e região (Foto: Divulgação

A produtora rural e presidente do Sindicato Rural de Antônio João, Roseli Maria Ruiz retornou nesta quinta-feira (03) à Fazenda Barra invadida no dia 22 de agosto e palco de confronto entre indígenas e produtores rurais. Com a ajuda de funcionários, ela faz um “inventário” de como ficou a propriedade após a ocupação.

Ao Dourados News ela contou que teve algumas coisas roubadas e outras encontrou quebradas na sede da fazenda, mas que só terá dimensão do tamanho dos estragos quando terminar de fazer o levantamento que ainda inclui um barracão e outras áreas da propriedade. “A gente retomou a fazenda no sábado, mas desde então eu fiquei na cidade. Hoje que eu voltei e estou aqui na sede”, disse ela.

Roseli ainda conta que encontrou na área motocicletas que, segundo ela, foram queimadas pelos índios durante o confronto de sábado e seriam o motivo da fumaça que podia ser vista da propriedade ao longe. “A gente acha que eles queimaram para fazer parecer que era a sede que estava queimando”, relatou.

A presidente ainda relatou a situação de mais duas propriedades de sua família que foram alvos da invasão. Seriam estas a Fazenda Fronteira, do cunhado dela, que teria ficado destruída e não sobrado “um copo ou uma xícara sequer” após a saída dos índios; e a Fazenda Cedro, da cunhada, que não se sabe a situação porque continua ocupada pelos indígenas.

A 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada – órgão do exército que evitou tropas para a região – confirmou que os índios não estão mais na sede da Fazenda Barra e nem da Fazenda Piquiri. Reforçou ainda que a sede da Fazenda Fronteira também foi deixada, mas que índios permanecem perto dela; e que a Fazenda Cedro continua ocupada pelos índios. As quatro propriedades são próximas e estão entre as que ficam na área reivindicada pelos índios.

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Questionada sobre como se sentiu ao chegar à Fazenda Barra e ver como está, Roseli diz que “nem dá para descrever”. Mas, ressaltou que cada “agressão” fortalece a luta dos produtores e voltou a criticar a postura do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) que na visão dela, incentiva as invasões.

SEGURANÇA

A produtora ainda contou que o clima na Fazenda está mais ameno, devido à presença das forças de segurança. O DOF (Departamento de Operações de Fronteira), Força Nacional e PMRE (Polícia Militar Rodoviária Estadual) atuam no local desde sábado. Já o Exército Brasileiro enviou tropas de apoio no domingo (30).

Desde terça-feira (01), o Exército passou a coordenar as ações de segurança no local, abrangendo a área de Antônio João, Aral Moreira, Ponta Porã e Bela Vista. Os órgãos policiais que já estavam lá – DOF, PMRE e Força Nacional – continuam na região, mas atuando de forma conjunta e atendendo às designações dadas pela instituição das Forças Armadas. O envio das tropas foi realizado pelo Ministério da Defesa após determinação da presidente Dilma Rousseff (PT) que atendeu a um pedido do governador Reinaldo Azambuja (PSDB).

De acordo com o Exército, nos dois primeiros dias coordenando as ações de segurança, militares realizaram com o apoio de aeronaves, reconhecimentos noturnos e diurnos da área onde são empregadas tropas federais, órgãos de segurança pública e agências governamentais para a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) em Antônio João.

O CONFLITO

O conflito começou no dia 22 de agosto, quando índios invadiram fazendas localizadas em Campestre, distrito de Antônio João. Mas, se agravou no sábado, após reunião no Sindicato Rural da cidade.

Durante a reunião, Roseli demostrou indignação com as autoridades pela demora em solucionar a questão e decidiu pela “retomada” das fazendas que são dela e do marido. Partiu direto do local para as propriedades no distrito, acompanhada de pelo menos 100 fazendeiros.

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Nesse dia, a tensão no local se agravou. Ficaram índios de um lado e fazendeiros do outro na propriedade, ambos armados. Durante o conflito ainda na tarde de sábado, o índio Semião Fernandes Vilhalva, 25 anos, da Aldeia Tin-Campestre, foi morto com um tiro na cabeça.

A área reivindicada pelos índios no distrito de Campestre chegou a ser homologada em 2005 pela presidência da república como Terra Indígena Ñande Ru Marangatu. Mas, no mesmo ano, o decreto presidencial foi suspenso por força de uma liminar na justiça em favor dos produtores rurais que tem suas propriedades atingidas. Desde então, o caso depende de um posicionamento do judiciário para que haja solução.