Campo Grande (MS) – Uniformizados com camisetas amarelas, os funcionários da Caravana da Saúde chamam a atenção de quem chega na estrutura montada no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian. Mas o que atrai os olhares não é apenas a roupa de cor vibrante, mas também o carinho empenhado no trabalho diário e humanizado. Entre as carretas do mutirão oftalmológico, é possível também encontrar colaboradores de uniforme cinza, mas a cor não importa, já que o respeito pelos pacientes é de impressionar até mesmo quem não enxerga mais. E o motivo de tanto amor gratuito? Os funcionários explicam que é genuíno; cada um se colocando no lugar do outro.
“Trabalhamos como se fosse pelos nossos pais, nossos avós. O cuidado é realmente especial e todos são tratados iguais”, disse Wellignton Pereira, 45 anos. Com os olhos cheios d’água, ele se emociona em falar das pessoas que saem das carretas enxergando o que já não viam há mais de anos.
“As histórias são emocionantes. O projeto (Caravana) traz um alívio imenso para essas pessoas. Traz felicidade em coisas tão simples, mas que para eles é tudo. Eu me emociono em falar porque ver pessoas que estavam cegas e de repente passam a enxergar. Procuramos fazer o melhor”, disse Wellington.
Éder acredita que o trabalho no projeto lhe trouxe muitos benefícios. “Garanto que me tornei uma pessoa melhor, sem dúvida. Temos tudo, braço, perna, olhos. A maioria está sem enxergar há mais de cinco anos e tudo por uma bobeira”, lembra ele.
Durante a entrevista, a paciente Maria Conceição fez questão de interromper para elogiar “os amarelinhos”. “Ela (Ana Beatriz) é muito bem humorada. Ninguém fica de mau humor perto dela. Todos eles são incríveis”.
Engrossando o discurso de elogios, Ivanil de Souza, fez questão de enaltecer o trabalho dos funcionários enquanto aguardava a cirurgia de catarata. “O atendimento é mil. Atenção maravilhosa e eles não fazem diferença com ninguém. Pode ser feio, bonito novo ou velho, o tratamento é o mesmo. Só tenho elogios a todos. A gente sai daqui curado, já que o tratamento também é o diferencial”, avaliou.
“Eu sempre trabalhei com público. Já fui atendente de padaria, trabalhei em empresa de telefonia e até no Tribunal de Justiça do Trabalho. Quando eu soube dessa oportunidade achei bem interessante. É a minha primeira vez na Caravana. Tem horas que o cansaço bate porque chegamos bem cedo, mas vale a pena”, contou Laiza Claudino, 22 anos.
Para ela o bom humor é a chave do sucesso. “Eu brinco com eles o tempo todo. Talvez eu não lembre desses pacientes depois, mas quem foi bem tratado, com certeza vai lembrar, a pessoa não esquece. Não tive nenhuma reclamação, acho que estou no caminho certo. Fomos treinados para estar sempre com sorriso no rosto e atender sempre da melhor maneira possível. Eu às vezes brinco: ‘senta do lado dessa moça bonita’, e na verdade já é uma senhora, mas eles adoram”, se diverte Laiza.
Veterano na Caravana da Saúde, Edwin Mateus, 24 anos, participou da edição de 2016 quando o projeto passou por sua cidade natal, Ponta Porã. Farmacêutico por profissão, Edwin já trabalhou na empresa 20/20, que oferece a estrutura (carretas de atendimento) da Caravana, mas se desligou para estudar. Dessa vez, de férias do trabalho, ele aproveitou para participar do projeto novamente.
“É muito satisfatório ver o processo todo, ver o seu trabalho dando certo e as coisas fluindo. Tem pessoas que estão há três anos na fila do SUS (Sistema Único de Saúde) e saem daqui enxergando e isso é compensador”, disse o jovem que já foi à Bahia, São Paulo e Tocantins com a empresa 20/20.
“Não tem dinheiro que pague ver a pessoa saindo do centro cirúrgico, chorando, e parece até que fizemos um milagre. Não tenho dinheiro que pague. Ficamos emocionados em ver essas pessoas sorrindo feito criança”, disse Marcos.
A Caravana da Saúde, que acontece no Hospital Regional desde o dia 17 de junho, termina na próxima sexta-feira, 05 de julho. Nessa edição foi ofertada apenas a especialidade oftalmológica e foram realizadas cirurgias de catarata, pterígio, yag laser e vitrectomia. O número de cirurgias feitas na Caravana superou a meta inicial do programa de realizar 2 mil intervenções cirúrgicas. Foram feitas mais de 3 mil procedimentos cirúrgicos, sendo a maioria de catarata. Aconteceram também quase 9 mil consultas oftalmológicas e mais de 38 mil exames.
As 79 cidades do Estado foram contempladas e Demandas espontâneas de pacientes que procuram a Caravana também serão atendidas, conforme a regulação.
O maior programa regional de saúde foi criado para zerar filas de espera no Sistema Único de Saúde (SUS), dando acesso a consultas, exames e cirurgias a pacientes que aguardam há anos por diversos procedimentos.
Luciana Brazil, Secretaria de Estado de Saúde (SES).