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Bela Vista-MS Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024

Convidado pela Secretaria de Educação, professor defende revolução na metodologia de ensino

Campo Grande (MS) – “A análise do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], que avalia tanto a escola pública quanto a privada, mostra que a educação instrucionista é um sistema falido”. Com essa frase o professor Pedro Demo iniciou sua críticas ao atual sistema de ensino no País, o qual tem levado os estudantes a ‘desaprenderem’ ao longo dos anos. Para virar esse jogo o docente lançou o desafio de aplicar o método intitulado de reconstrutivista, focado na pesquisa de autoria como forma de aprendizagem.

A convite da Secretaria de Estado de Educação, Pedro Demo ministrou palestra nesta terça-feira (21) a centenas de educadores na cidade de Dourados – distante a 225 km de Campo Grande. Na ocasião foram apresentados dados do Ministério da Educação (MEC) que apontam índices de aprendizagem dos alunos entre os anos de 1995 a 2013, no qual, em tom bastante enfático, Demo expôs sua análise.

“O que nós vemos é que são 18 anos jogados no lixo. No ensino médio, por exemplo, o índice de alunos que aprenderam matemática no Brasil era de 16,8% em 1995; em 2013 caiu para 16,4%. Em língua portuguesa eram 37,5% em 1995; já em 2013 foi de 28,7%. É estarrecedor. Nós estamos desaprendendo (…). Esse sistema gasta milhões e não funciona. São dados oficiais do próprio MEC. Precisamos ter a coragem de rever isso”, criticou Demo.

Para Pedro Demo, baseado na série histórica é possível concluir que a medida em que o sistema avança, o estudante desaprende. “Fico estarrecido porque quem faz esse dados é o MEC. Desde 1999 ele sabe disso e ainda inventa um plano nacional da educação com duração de 10 anos. É absurdo”, frisou se referindo ao Plano Nacional de Educação, ao qual é abertamente contra.

Na tentativa de combater o sistema instrucionista, em que os professores ministram aulas e ensinam, Demo propõe que a educação seja baseada na apredizagem. De acordo com ele, esses jovens que ‘não aprederam bem’ tiveram anos de aulas e ensino, mas não apredizagem. Ele citou ainda o fato de que a escola privada foi a que mais caiu no índice do Ideb.

“A escola que mais caiu no índice do Ideb 2013 não foi a dos pobres, onde os alunos carregam consigo os problemas sociais. Foi a particular, dos ricos. Outro ponto: o ano em que o Ideb teve maior queda foi em 1999, logo após passar para 200 dias letivos. Em seguida inventaram mais um ano no ensino fundamental. E depois mais 20 dias. Isso prova que aumentar a quantidade de aulas não faz com que o aluno aprenda, não existe nenhuma teoria que diga isso. O sistema instrucionista está falido e precisamos parar de negar essa oportunidade aos nossos jovens”, frisou.

 

Cuidar do professor

Na avaliação do docente, o professor é o responsável pelo desastre na apredizagem, mas também é somente ele quem pode promever a mudança. Para ele, no ensino apenas passivo, como é usual hoje, as crianças não se preparam direito para a vida, pois não conseguem enfrentar coisas novas.

“Precisamos de uma nova forma não apenas de pensar, mas sobretudo de fazer a educação. Os professores precisam ser transformadores da escola. Estamos focados na elaboração e execução de projetos de educação integral, à distância, plataformas virtuais, formação continuada dos gestores, coordendores pedagógicos e professores, com foco na melhoria do processo de apredizagem dos alunos”, explica Demo.

O método apresentado é o reconstrutivismo e tem como foco o professor como autor da apredizagem, avaliando alunos individualmente, orientando em cima daquilo que o aluno produz.

“Se a criança é levada a buscar seu material, a fazer sua elaboração, a se expressar argumentando, a buscar fundamentar o que diz, a fazer uma crítica ao que vê e lê, ela vai amanhecendo como sujeito capaz de uma proposta própria. Para despertar esse espírito na criança é preciso muita pesquisa e incentivo à elaboração própria de cada aluno. Nesse cenário, a orientação e o acompanhamento atento do professor é indispensável. É esse o método que pretendemos incutir”, explicou.

O docente fez questão de salientar a importância das novas tecnologias. “Vai ser muito difícil no futuro fazermos qualquer proposta educacional que não seja em parte virtual. Quando o texto chegou na história da humanidade, ele também foi taxado de intruso. O grande desafio será inserir pesquisa e elaboração própria em um espaço de aprendizagem virtual”, alertou.

Por fim, Demo citou o Chile como caso de sucesso do método. Com baixos índices na qualidade da educação, o país fez uma verdadeira reforma em 2012 – da qual o docente fez parte junto com o reconstrutivismo – e hoje figura com a melhor educação básica da América Latina.

“A educação é uma apredizagem que nunca acaba, assim como na ciência em que tudo pode ser revisto. Professor tem que orientear, avaliar. Se fizer isso no início do ano já saberá quais as deficiências do aluno logo de cara e não no final do bimestre. Quem pode ajudar o aluno é o professor e é isso que a gente entende como cuidar do professor”, finalizou.

Quem é Pedro Demo?

O professor Pedro Demo é graduado em Filosofia e Doutor em Sociologia, com pós-doutorados na Alemanha e Estados Unidos. Professor Titular Aposentado do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, é Bolsista 1B de Produtividade em Pesquisa do CNPq e trabalha com foco na questão da aprendizagem nas escolas públicas, por conta dos desafios da cidadania popular.

Atuou no Ministério da Educação: foi Secretário-Geral Adjunto de 1979 a 1983 e Diretor Geral do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) de 1984 a 1985. Orientou ao longo de sua carreira 22 dissertações de mestrado, 9 teses de doutorado, 15 trabalhos de conclusão de curso de graduação e 11 de iniciação científica. Recebeu inúmeras homenagens nacionais e internacionais; é autor de mais de 100 artigos completos em periódicos; mais de 70 livros; dentre muitas outras contribuições.

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