Um casal de surdos com três crianças, vindos do interior de Mato Grosso do Sul, chegou na semana passada ao Aeroporto Internacional de Campo Grande, com passagens para Recife, onde passariam a morar, junto com outros parentes, por conta das grandes dificuldades econômicas que tiveram nesse período de pandemia em MS, com desemprego, entre outros problemas. Para surpresa e desespero de todos eles, as passagens eram falsas. Provavelmente teriam sido compradas de golpistas que armam suas teias na internet. Felizmente tudo terminou bem porque um bom samaritano agiu.
Trata-se do próprio funcionário da companhia aérea, a Azul que atendeu a família. Ele é Raphael Cavaleiro, profissional dedicado e membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Emocionado com o drama da família ele usou o próprio cartão de crédito para efetuar o pagamento das passagens.
Ele conta que a família, muito humilde, chegou ao guichê com os papéis referentes à passagem. “Logo vi que tinha alguma coisa errada. O papel não tinha localizador. Tentei procurar por nome em todos os voos, um dia antes, um dia depois, e nada. Procurei pelo sistema de nomes para ver se emitiram com alguma data errada e também nada. Depois de esgotar qualquer outra possibilidade, estava claro que a família havia sido vítima de um golpe”, afirmou Raphael.
Com um aperto muito grande no coração, ele voltou-se para a filha do casal, a mais velha, uma menina de 9 anos, que parecia ter muito mais pela sua seriedade, preocupação e intermediação de todo o processo em lugar dos pais, surdos, para pedir que transmitesse aos pais o terrível fato de que haviam caído num golpe durante o processo de compra das passagens. A menina se desesperou e disse que a família não tinha mais dinheiro e que haviam vendido tudo o que tinham para fazer essa viagem de volta ao Recife porque o pai estava desempregado e eles estavam vivendo com muita dificuldade financeira.
Quando viu a menina conversando com os pais, em libras, os olhos entristecidos e desesperados dos pais começaram a jorrar lágrimas silenciosas. Nesse instante Raphel pediu licença e se retirou temporariamente para uma área restrita aos funcionários, onde também chorou. Pai de duas meninas de 11 e 12 anos, Raphael conta que se perguntava: “Por que as pessoas fazem isso? Por que existem pessoas tão más? ” Nesse clima de tristeza ele viu naquela menina de apenas 9 anos, um retrato de sua filha mais nova. Foi ali, quando sentiu toda a dor da família que ele resolveu fazer um sacrifício financeiro para ajudar aquela família a chegar ao seu destino. Voltou e falou para a menina que ele ajudaria a resolver o problema. Os pais tinham uma pequena parte e ele completou tudo para que os cinco passageiros embarcassem de retorno ao Recife.
O assunto então correu entre os colegas de trabalho de Raphael e foi mais longe do que se pensava. Chegou ao conhecimento do presidente da Azul, o empresário John Rodgerson, que acabou postando em suas redes sociais o episódio, elogiando a postura do atendente. “O mais surpreendente foi a atitude de um dos nossos tripulantes da base, o Raphael Leiva Cavaleiro, que nos mostra que ao contrário da covardia de bandidos, há pessoas que pensam no próximo e fazem o bem”. Além disso o empresário providenciou logo o ressarcimento de todo dinheiro usado por Raphael na compra das passagens.
Raphael Cavaleiro, por sua vez, diz que sua atitude está alicerçada nos princípios morais e espirituais cultivados desde a infância em seu lar. Temente a Deus e um membro fiel de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em Campo Grande, ele destaca também o papel de sua mãe na sua formação:
“Cresci em um lar com base religiosa, minha mãe principalmente foi a precursora da família no que se referia a ajudar o próximo, através de inúmeros exemplos, pude acompanhar diversos relatos onde ela tirou dela para ajudar o próximo. Minha mãe, sempre temente à Deus, foi impecável nas reuniões dominicais (da igreja) e se esforçou muito por criar um lar amoroso e sempre nos influenciava a fazer o que é certo”.
Quanto à grande repercussão do caso, na mídia, Raphael diz que: “por mais que eu preferiria o anonimato, esta história repercutiu e aqueceu o coração de muitos, tenho recebido diversos relatos de seguidores e até mesmo de pessoas fora das minhas redes sociais parabenizando a ação, mas fui apenas uma ferramenta nas mãos de Deus para ajudar aquela família”.
No final, ele deixa uma mensagem de esperança: “não sou muito de falar, acredito que precisamos de mais pessoas com atitude e menos discurso. já basta as burocracias da vida, não podemos burocratizar a bondade, ela em muitas vezes pode salvar vidas e ajudar quem precisa”.
Reportagem: Wilson Aquino