Ela acordou acabrunhada, jururu, desarmada de vontades. Não conseguia desatar os nós de sua garganta. Os sorrisos escondidos. Não brigou com ninguém, os problemas comuns estavam descansados; no amor a reciprocidade era um aconchego no ritmo do seu coração. Sentia medo de tudo e questionava sua existência e de tantos pedaços de mundo. Queria chorar; seu coração ameaçava disparar, o peito doía, as mãos suavam. Pediu um abraço e saiu buscar sentido na vida que acontecia nas ruas.
Calçou qualquer coisa; vestiu roupas sem vaidades. Fechou a porta como quem encerrava um sonho com um ponto final e saiu descrente dos passos que sonhava dar. Deu um sorriso triste a vizinha que a viu sair. O dia ainda brincava tranquilo; nas ruas os carros se movimentavam trocando olhares coloridos e apressados. Por instantes se arrependeu do seu passado; porque lá é que o dia de hoje foi construído. Será mesmo? Ela apenas buscava justificativa.
O silêncio de sua voz e as confusões de sua alma comunicavam-se por idiomas barulhentos, incompreensíveis e teimosos. Com suas costas doídas com o peso do seu mundo, ela lamentou antigos caminhos pisados. Seus passos passados a angustiavam e o remédio parecia estar em novas caminhadas. Prosseguiu. Literalmente. Depois de mais alguns quarteirões, ela chegou à avenida principal; atravessou a rua e jogou-se no primeiro banco da praça bucólica que lhe estendeu o conforto.
Perdeu a noção do tempo. O dia já se dirigia para a porta de saída quando ela resolveu pegar uma carona e voltar para casa. Já estava melhor. Pareceu entender a importância de um dia de angústia; um dia que a fez pensar, entender melhor o seu próprio mundo e suas emoções. Forçou-se estudar outras possibilidades. Sequer pensou em matar sentimentos ou anestesia-los, fosse com música, literatura, esporte ou alguma felicidade artificial. Resolveu ser apenas ela!