Dormiu pouco, pensou muito. Acordou cedo, engoliu apenas um café antes de pisar na rua e mastigar o cheiro de uma manhã que recém se arreganhava. A cidade era tão grande quanto a sua angústia em entender o que realmente acontecia com seu corpo. Sua saúde tinha trejeitos de doença. Pegou o ônibus. Sua idade lhe dava preferência; porém, depois do percurso em pé, porque muitos fingiam dormir para não ceder o lugar sentado, desceu em um ponto próximo a sua consulta.
O local abrigava uma sala grande, com cadeiras distribuídas de maneira a caber o maior número de angústias possíveis. Uma enorme janela, antiga, de madeira, fazia companhia a uma porta com quem dividia o mesmo estilo. Ambas denunciavam que por ali já passaram muitos desgostos e que já foram ombros para muitos choros. Através delas era possível ver qual era a cara do dia; se sorria ou mostrava-se emburrado.
Ao lado da porta de entrada, abraçada a uma mesa simples, uma secretária se atrapalhava com agendas e fingia arrotar conhecimentos e informações que não dispunha. Passava o tempo vivendo um mundo que não lhe dava bolas. O local cheirava a burocracia, assinaturas gritavam insatisfações enquanto se trombavam no vai e vem interminável de documentos mal escritos, fingindo formalidades.
Sinceridade ali encontrava-se apenas nos chás e cafés disponíveis em garrafas térmicas doentes do tempo. Em meio a todos os tipos de dores e expressões, passou quase toda a manhã; sua vez foi anunciada quando o almoço já se avizinhava. Entrou. Após pouca conversa e quase nenhum interesse, foi encaminhada para que as máquinas tentem dar as respostas que procura. Elas andam muito mais humanizadas! Ainda aguarda um retorno. Deus queira que dê tempo de voltar a sorrir!