Josyel Ribeiro Carvalho
Meu sono encompridou um pouco mais esta manhã; mas ainda deu tempo de dividir uma xícara de café com minha mulher, antes dela ir para o Salão. O sábado é um domingo em construção, dividido entre o cheiro forte dos dias anteriores e do churrasco do dia seguinte, em que as responsabilidades sociais balançam em redes de ninar dia de paz. Minhas gatinhas fofocam-me atitudes deselegantes dos cachorros que se negam a tomar vacina e que atacam outro felino vizinho a perambular em cima do muro.
É um dia feliz. O sol agradável assiste aos ventos anteciparem o mês de agosto. Minha vizinha de frente, uma senhora de 81 anos, sentada à sombra de um pé de oiti, conversa ao telefone e confidencia alguma coisa em guarani. Sorrio. Pego o celular, respondo algumas mensagens, atendo o telefonema de um amigo, arrasto uma cadeira e ameaço esticar as pernas e curtir a outra metade da manhã. Entretanto, lembro-me que folhas em branco me aguardam para preenchê-las com qualquer letra.
Confirmo o almoço com minhas irmãs. Minha mulher pergunta se ‘estou muito ocupado’. Para ela nunca estou ocupado o suficiente para não atendê-la. Saio para resolver um pequeno problema. Retorno em seguida e pego meu caderno de rascunhos e, de caneta em punho, fico tentando laçar uma das muitas boas histórias que ficam diariamente perambulando escancaradas nos meus momentos de pouco tempo. Cadê vocês, onde estão? Apareçam! Sumiram?!
Nesta busca por palavras ariscas, o dia foi escorrendo e já começava a invadir o fim da tarde. Ligo uma música para atrair palavras faceiras, sento quieto a acariciá-las. Crianças passam correndo na calçada, os cachorros dizem qualquer coisa. Meu filho vestido de rubro-negro me lembra que domingo tem Flamengo. Abro a cortina, ajeito os óculos recém chegados e, juntos, contemplamos a vida tranquila, harmoniosa e de paz da minha fronteira! Passarinhos felizes fazem a trilha sonora! O dia voou e já é domingo!