Mato Grosso do Sul é o Velho Oeste brasileiro. Normalmente é aqui, na nossa fronteira seca, que as produções cinematográficas do país recorrem quando precisam de um cenário que relembre de imediato as questões ligadas à pistolagem, ao tráfico de drogas ou à violência contra indígenas.
Acompanhando as gravações do filme “A Curva do Rio Sujo” é possível notar a preferência por pontos que repassem essa sensação de “terra sem lei” da fronteira. Baseado em um livro escrito por Joca Reiners Terron, a produção conta a história de uma disputa entre gangues de motoqueiros, que culmina na morte de um indígena.
Já a colega de trabalho de Gilson, a atendente Jane Adélia Britez, de 26 anos, acha que no fim das contas o filme retrata uma verdade. “Eu nasci aqui e hoje o que mais tem é roubo de moto, furto de residências. Talvez pistolagem e confronto indígena nem tanto, vejo muito isso em Dourados”, acredita.
Vale lembrar que essa não é a primeira vez que filmes do gênero são gravados na nossa fronteira. “Cabeça à Prêmio”, do diretor Marco Ricca, “Frontera”, do sul-mato-grossense David Cardoso, “Os Matadores”, de Beto Brant e por aí vai…
“Esses filmes precisam de locações que mostrem as características da fronteira e Mato Grosso do Sul tem isso muito forte, além da questão indígena, que aqui temos a segunda maior população indígena do Brasil”, aponta o presidente do Fórum de Cultura de Mato Grosso do Sul, Airton Raes.
Para ele, o poder de atração que a fronteira exerce sobre os espectadores é um fenômeno mundial. “Hollywood sempre explorou muito a fronteira do México e dos Estados Unidos, um exemplo é a Marca da Maldade. Essa relação é muito parecida com a brasileira, não tem como negar isso”, acredita.
Nessa questão do cinema monotemático em Mato Grosso do Sul, Airton ainda ressalta que é importante citar as produções sobre Meio Ambiente, entre elas uma da BBC, o filme de terror “Condado Marcado”, rodado em Paranaíba e um documentário sobre um casal que trocava cartas de amor, “Espero Que Esta te Encontre”, de Natara Ney.
“Falta uma organização das film commissions para valorizar o potencial de locações que Mato Grosso do Sul tem e para atrair as produções de fora. Se isso não é levado, as pessoas vão procurar gravar aquilo que elas enxergam, nesse caso, da fronteira, das questões à margem da sociedade”, explica.
Bela Vista é, como muitos municípios de Mato Grosso do Sul, um lugar que guarda a história por meio das ruas e prédios, mas que viu seus redutos serem destruídos pela ação do tempo e o descaso dos governantes.
Para o turismólogo Diego Maciel, 32 anos, morador de Bela Vista, a época da pistolagem ficou para trás. “Às vezes acontecem alguns assassinatos, alguns assaltos, mas não é uma cidade perigosa e sim muito bonita. Quando tem desfile, os indígenas participam, mesmo apesar da distância, é cerca de 40 minutos de viagem até a aldeia, mas desde a minha adolescência eu não ouço falar mais de pistolagem”, acredita.
Reportagem – Naiane Mesquita – Campo Grande News