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Bela Vista-MS Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024

Campo Grande (MS) – Receita para templos lotados, a Teologia da Prosperidade é campo fértil para que “ovelhas” sejam atraídas para golpes como o investigado pela operação Ouro de Ofir, realizada no mês passado pela PF (Polícia Federal) e dona de números superlativos: 25 mil pessoas enganadas e promessa de distribuir trilhões de reais.

Parte da “clientela” vinha de igrejas, cujo discurso do Evangelho reforça que os fiéis terão benção financeira. Conforme a investigação, a característica principal da fraude era atingir a fé das pessoas e na crença em um enriquecimento rápido e legítimo, que pode ser resumido em “presente de Deus”.

As menções à fé marcam presença nos grupos em redes sociais e aplicativo, que replicam expressões como“vocês têm que acreditar”, “vocês foram os escolhidos“, “aguardem que a benção virá”, “tenham paciência que isso é uma dádiva de Deus”.

Conforme relatório da polícia, a predileção por cooptar pastores evangélicos se destaca na operação SAP, abreviação do nome Sidinei dos Anjos Peró, que foi preso na ação da PF. De acordo com a investigação, ele arregimenta pastores evangélicos, possivelmente como corretores, para vender “aportes” de sua operação a fiéis das igreja. Vários pastores são citados nos grupos, em diversos Estados.

Semente do dinheiro – Para o fundador da Convenção de Lideres das Igrejas Evangélicas do Brasil, pastor Antônio Carlos Ferreira Bitencourt, essa modalidade de Evangelho decorre de uma interpretação equivocada da “Lei da Semeadura”. “Se eu planto o bem, eu colho o bem; aquele que é fiel vai ter pessoas fiéis ao seu lado. Na Teologia da Prosperidade, você dá cem e vai colher mil. É a semente como dinheiro”, afirma.

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Desta forma, é comum desafios a Deus para obter benefícios financeiros. “Mas buscar Deus em troca de dinheiro é um grande engano. Isso não é pastor, é mercenário. O que Deus promete para nós é salvação, se você se arrepender dos pecados”, diz o pastor.

Ainda de acordo com Antônio Carlos, as igrejas que não se valem da Teologia da Prosperidade fecham as portas para vários enganos, mas também atrai poucos interessados, com no máximo 80 membros.

“As pessoas que têm um produto para vender procuram igrejas grandes, um grupo social mais forte. Os grandes ministérios, com mil, dois mil, cinco mil membros são alvos disso. Vão se infiltrar lá”, avalia.

Conforme a polícia, supostos líderes religiosos e membros de igrejas evangélicas podem ser processados por obstrução de Justiça ao insuflar as vítimas do golpe. De acordo com o delegado Guilherme Guimarães Farias, todas as pessoas que tentam atrapalhar as investigações ao orientar as vítimas a não denunciar o golpe podem ser processadas por obstrução e ser consideradas coautoras do crime.

PF fez buscas na casa de Sidinei dos Anjos Peró.
(Foto: André Bittar)PF fez buscas na casa de Sidinei dos Anjos Peró. (Foto: André Bittar)

Ouro de Ofir – A operação investiga organização criminosa que vende ilusão: a existência de uma suposta mina de ouro cujos valores, repatriados para o Brasil, são cedidos, vendidos ou até mesmo doados mediante pagamento.

Em geral, o investimento inicial era de mil reais para um resgate financeiro futuro de R$ 1 milhão. Mas há quem tenha investido R$ 500 mil.Ouro de Ofir, nome da operação, é baseado em uma cidade mitológica da qual seria proveniente um ouro de maior qualidade e beleza. Mas nem ouro e nem cidade foram localizados.

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Provas – No pedido de revogação da prisão preventiva, negado pela 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande, Sidinei dos Anjos Peró alega não existir provas que o vinculem à operação SAP. Também sustenta não haver elemento que indique conduta sua ou de seus familiares relativa ao envio de mensagens via WhatsApp.

Fonte: Campo Grande News