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Bela Vista-MS Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024
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A prisão foi convertida em domiciliar e ele terá que cumprir medidas restritivas, como comparecer em juízo a cada 15 dias

Cumprindo prisão domiciliar sob acusação de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, o senador Delcídio do Amaral (PT) resolveu quebrar o silêncio e concedeu entrevista ao programa Noticidade, da Rede MS de Rádio.

Ele negou com veemência que tenha quebrado o decoro parlamentar, disse que vai retomar as atividades do mandato tão logo receba liberação médica e revelou que o sofrimento enfrentado durante os 87 dias que permaneceu preso sob a suspeita de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato fez dele “uma pessoa melhor”.

Em nota distribuída por sua assessoria de imprensa, após a entrevista, Delcídio garante não está cumprindo prisão domiciliar e pode participar de todas as atividades do Senado, independente do horário que elas terminem, mas deve voltar para dormir em casa, no regime definido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como “recolhimento noturno”.

Na verdade, a prisão dele foi convertida em domiciliar e ele terá que cumprir medidas restritivas, como comparecer em juízo a cada 15 dias e entregar o passaporte à Justiça.

Relator dos processos da Lava Jato no Supremo, o ministro Teori Zvascki alega que um dos motivos da prisão do petista foi a oferta de uma “mesada” de pelo menos R$ 50 mil para que o ex­-diretor da Petrobras Nestor Cerveró não fechasse acordo de delação premiada na investigação que apura um escândalo de corrupção na Petrobras. Delcídio ainda falou em um plano de fuga para Cerveró.

O dinheiro seria fornecido pelo banqueiro André Esteves, dono do banco BTG, segundo gravação de conversa entre o senador, o advogado Edson Ribeiro –também preso preventivamente, e que cuidava

da defesa de Cerveró– e o filho do ex­-diretor.

No áudio, ele faria propostas para pessoa do entorno de Cerveró com o objetivo de que seu nome e o de Esteves não aparecessem na delação premiada do ex-diretor. No áudio, Delcídio oferece rotas de fuga para Cerveró. O ex-diretor está preso em Curitiba, base da Lava Jato, desde janeiro deste ano.

Na entrevista, Delcídio manifestou o interesse de retornar a Campo Grande logo que acabem os exames médicos aos quais está sendo submetido e garantiu que jamais fez qualquer tipo de pressão sobre os demais parlamentares. “Quem me conhece sabe o tipo de atitude que tenho. Sou um homem de conciliação, de diálogo e conduzo as coisas com discernimento e humildade. Eu jamais faria pressão sobre meus colegas, porque, acima de tudo, os respeito”, afirmou.

FUGA A NESTOR CERVERÓ

Nestor Cerveró está preso desde janeiro (Foto: Divulgação )

Na entrevista ao Noticidade, Delcídio detalhou alguns pontos de sua defesa, já apresentada ao Conselho de Ética do Senado.

“Para que eu fosse gravado deveria haver a autorização do Supremo Tribunal Federal, o que não aconteceu. Portanto, já em sua origem, o processo é absolutamente ilegal. O segundo ponto importante é que uma das razões que determinaram a minha prisão foi a suposta existência de uma organização criminosa, da qual fariam parte eu, o banqueiro André Esteves, meu chefe de gabinete e o advogado Edson Ribeiro. O Ministério Público apresentou a denúncia, mas não colocou “organização criminosa”, disse

“Não colocando organização criminosa, não existe a permanência no delito. Se você não tem permanência no delito, não se reconhece a organização criminosa e não tem flagrância, ou seja: eu não podia ter sido preso em flagrante, e, consequentemente, o delito deixa de ser inafiançável. Tudo isso demonstra que o processo tem vícios de origem graves e eu estou muito tranquilo para fazer minha defesa no Conselho de Ética. Ela é muito ampla e forte. Eu vou provar que sou um cara de boa fé. Quando conversei com o filho do ex-diretor Nestor Cerveró fui atender ao chamado de uma família que estava absolutamente angustiada, preocupada com o destino dele, uma família que conheço há muitos anos. Agora, eu jamais imaginei que isso pudesse acontecer, e o pior: naquele momento eu não estava ali no exercício do mandato. Foi uma conversa particular, com uma família. Por tudo isso, dizer que se quebra o decoro parlamentar numa conversa como essa é forçar a barra demais. É preciso separar muito bem as coisas”, ponderou o senador.

ROTINA NA PRISÃO 

Delcídio falou de sua rotina nas últimas semanas e disse que o sofrimento enfrentado enquanto esteve preso o aproximou mais de Deus e da família.

“Foi uma experiência muito difícil. Primeiro, eu estabeleci uma rotina muito dura, trabalhando no meu processo permanentemente. Eu sempre li muito e passei a ler mais ainda. Isso mantinha a minha mente ocupada. Além disso, sou católico de formação e sempre rezei bastante. A experiência que enfrentei reforçou ainda mais o papel de Deus e da religião na minha vida. Reforcei também meus laços familiares e recebi o carinho e a solidariedade de centenas de pessoas de todo o Brasil preocupadas com minha situação. Muita gente foi ao meu encontro levando bíblias e livros os mais variados. Quem passa por uma experiência dessas, com certeza, muda. E eu não tenho dúvida nenhuma que, depois dessa experiência, sob o ponto de vista pessoal, saio muito melhor, porque aprendi muitas coisas. Passei a dar valor a coisas que no cotidiano eu não prestava atenção. A medida que você passa por uma experiência dessa você avalia de uma forma muito mais real as coisas que a vida lhe proporciona. E cresce muito”, concluiu o senador.

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