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Bela Vista-MS Sexta-Feira, 29 de Março de 2024

“Eu fiz Universidade, o resto é resto”, afirma Pedro Pedrossian

Ele governou o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul. Sua grande marca foi ter criado três universidades. A mais recente dela, a UEMS-Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul há 20 anos. Pedro Pedrossian, nesta entrevista concedida ao jornalista André Mazzini, da Assessoria de Comunicação Social Social da UEMS, revela detalhes da criação de uma das mais importantes instituições de ensino superior do centro oeste.

“Eu entendi que qualquer coisa que pudesse ser feita que transformasse as coisas, seria somente através da educação. Eu como político já fui o último governador eleito do Estado pró-diviso do velho Mato Grosso. Eu fui o primeiro senador do Mato Grosso do Sul e duas vezes governei o Mato Grosso do Sul. Mas o que mexia realmente na minha emoção e nos meus sentimentos é quando eu falava em universidade, eu tive um orgulho enorme da minha carreira política, mas o que me enchia realmente de satisfação era a criação das universidades, eu nunca escondi isto e continuo até hoje, quando eu falo alguma coisa – ‘o que é que você fez?’ Eu digo, Universidade! O resto é resto!”

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“Eu fiz Universidade, o resto é resto”, afirma Pedro Pedrossian

O ano é 2013 e uma equipe da UEMS reúne-se em Dourados para discutir o que seria feito para comemorar o 20° aniversário da Universidade. “Poderíamos produzir um selo comemorativo”, “interessante fazer um evento em cada unidade”, “que tal um vídeo sobre nossa história?”, as ideias começam a brotar, mas nenhuma é recebida de forma tão unânime quanto a de homenagear aquele que fora responsável direto pela criação da Universidade: Pedro Pedrossian.

Mais do que homenageá-lo, com uma placa ou qualquer outro presente, concordaram que bom mesmo seria ouvi-lo dizer, com suas palavras e a partir de suas memórias, como foi criar a Universidade, mesmo num contexto de baixa arrecadação que Estado tinha a época. Afinal, foram três universidades públicas implantadas por ele ao longo de sua carreira política: Universidade Federal de Mato Grosso, Federal de Mato Grosso do Sul e Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

Seu estado de saúde, já debilitada na ocasião, provocava dúvidas se a entrevista seria possível. Uma estratégia foi então montada para agendar a conversa. Elisa Cêsco e Leocádia Petry Leme, que participaram da comissão de implantação da Universidade montada pelo próprio Pedrossian, foram as escaladas para fazer a ponte. E fizeram.

Entrevista marcada, a equipe chegou cedo, o equipamento foi montado e, na hora marcada, empurrado em uma cadeira de rodas, dá nos bom dia um bem humorado Pedrossian. Cumprimenta a todos, faz alguma piada sobre futebol e, com memória e sensibilidade afiadas, fala sobre a estratégia que adotou para transformar Mato Grosso do Sul: “Eu entendi que qualquer coisa que pudesse ser feita que transformasse as coisas, seria somente através da educação”, sintetizou já na primeira pergunta.

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Quem olha para a história deste Mirandense pode referir-se a ele como aquele que criou o ousado Parque dos Poderes, o Morenão apontado como o maior estádio universitário da América Latina, o fundamental Hospital Regional e tantas outras obras. Ele, porém, prefere ser lembrado de outra forma: “Eu como político já fui o último governador eleito do Estado pró-diviso do velho Mato Grosso. Eu fui o primeiro senador do Mato Grosso do Sul e duas vezes governei o Mato Grosso do Sul. Mas o que mexia realmente na minha emoção e nos meus sentimentos é quando eu falava em universidade, eu tive um orgulho enorme da minha carreira política, mas o que me enchia realmente de satisfação era a criação das universidades, eu nunca escondi isto e continuo até hoje, quando eu falo alguma coisa – “o que é que você fez?” Eu digo, Universidade! O resto é resto!”

Confira abaixo, na íntegra, a entrevista de Pedro Pedrossian.

Qual era a importância da educação na sua gestão?

Eu entendi que deveria ter uma ação de transformação de formação de mentalidade, que o Estado dispunha de recursos naturais, mas faltava os elementos qualificados que podiam acionar este tipo de qualidade de modo a transformar isto em riqueza. E o fundamental seria exatamente a formação de professores, a formação para o ensino básico e fundamental, esta é a base de tudo. Com esta base consolidada você pode

montar projetos de qualquer ordem, então eu entendi que qualquer coisa que pudesse ser feita para transformar as coisas só poderia ser feita através da educação.

Confesso que, graças a Deus, nós não erramos. O Estado se transformou, se modernizou e essa modernização coincide muito com a ação das universidades. Algumas hoje federalizadas, mas cumpriram também o seu papel inicial na forma que a UEMS faz hoje.

Como surgiu a ideia de criação da UEMS?

A criação da Universidade foi de uma inspiração quase que divina, porque ela desde o início fez opção preferencial pelo professor que iria atender as crianças, que é a base da pirâmide social, então foi um negócio inédito, sensacional. Eu acreditava na universidade no princípio, e hoje, ela é um êxito total!

A UEMS cresceu, cumpriu seu papel e tornou-se uma grande Instituição. Essa universidade é um êxito total e os dados, somente, não permitem avaliar o sucesso desta empreitada. Eu me emociono quando falo em universidades, pois já fui governador e senador, e realmente me enche de emoção, pois elas são a razão de tudo. A UEMS surpreendeu a mim mesmo, eu tinha certeza que as coisas dariam certo, mas não esperava que alcançasse tamanha grandiosidade, que pudesse nos encher de tanto orgulho e satisfação.

Porque uma Universidade no interior?

Porque a vida não é só na Capital, aliás é um fenômeno que está acontecendo no Estado, o empobrecimento dos municípios do interior e sobretudo através da educação e da saúde. Uma cidade como Campo Grande tem como ofertar um nível melhor de educação e saúde, então as pessoas procuram todas se mudar para cá e o que acontece? As grandes cidades começam a crescer demais e as pequenas ninguém se preocupa em descobrir a vocação do lugar para escolher algum tipo de atividade, para movimentar a coisa em um sentido positivo. Então o interior tem o mesmo direito da Capital.

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Como foi a escolha destes cursos?

Duas coisas: a orientação da própria Universidade e a pressão da própria sociedade que acabou entendendo que isto era necessário. Acho eu, se bem que a decisão partiu mais de cima para baixo mesmo.

A Universidade já tinha previsão constitucional de ser aberta, mas os governantes anteriores não encamparam esta luta. Porque o senhor decidiu enfrentar e abrir a Universidade Estadual?

Eu como político já fui o último governador eleito do estado pró-diviso do velho Mato Grosso. Eu fui o primeiro senador do Mato Grosso do Sul e duas vezes governei o Mato Grosso do Sul no período de dois e quatro anos. Mas o que mexia realmente na minha emoção e nos meus sentimentos é quando eu falava em universidade, eu tive um orgulho enorme da minha carreira política, mas o que me enchia realmente de satisfação era a criação das universidades, eu nunca escondi isto e continuo até hoje, quando eu falo alguma coisa – “o que é que você fez?” Eu digo, Universidade! O resto é resto!

Então foi esta a razão. Aquilo mexia na minha emoção, como continua mexendo até hoje. E eu espero que esta universidade também se submeta aos períodos de transformação, que o próprio tempo a de exigir.

Hoje a Universidade está fazendo 20 anos, olhando para esta trajetória toda ela já é uma universidade consolidada, tem doutorado, já está uma Universidade solidificada em Mato Grosso do Sul. O que o senhor sente em relação a esta Universidade hoje, olhando para a história dela e para sua própria história?

Acho que ela vem cumprindo o seu papel e dentro deste problema de flexibilidade… ela não é o tipo destas universidades tradicionais, já com as regras todas impostas, ela não. Ela difere um pouco das outras, difere devido a esta flexibilidade. Ela não espera o aluno, a universidade tradicional espera o aluno, ela não. No nosso caso, nós procuramos os alunos onde eles estão, onde eles são necessários, onde o bom senso se determina como se agir, mas também nos submetendo a pressão da própria sociedade, porque a própria sociedade também sabe o que quer. Então vai unindo todo este tipo de pressões afim de que as transformações acabam ocorrendo, é natural, tudo na vida se transforma.

A Estadual do jeito que ela foi criada foi certinho, está certa até hoje, mas ela vai se adaptando as necessidades do novo tempo. Tenho certeza que vai ocorrer isto!

Na placa de fundação da UEMS o senhor fala na universidade “como instrumento de gerar inconformismo ante ao atraso”, queria que o senhor falasse um pouco sobre isto.

Mas lógico! O pessoal pergunta se eu sou de esquerda ou de direita. Quem cria universidade não pode ser um conservador tradicional, porque ele está criando pessoas independentes, pessoas independentes você não comanda, então isto me colocaria à esquerda, embora que todo mundo ache que eu sou um elemento de direita. Na hora que você permite a transformação, a evolução, você está longe de ser um conservador. Então criar homens independentes para o político é fatal! Ele passa a ser mais exigente.

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Com a universidade o senhor criou um bocado de pessoas independentes…

Claro que são independentes, ninguém comanda a pessoa independente. Então você sempre tem que ter razão para convencer, não basta simplesmente você ditar regras e normas. Nada melhor do que a criação de pessoas independentes e a universidade é um grande instrumento para isto.

As outras universidades, por exemplo, foram um pouco diferentes o que que ocorria, você via aquele estado continental, aquele gigante enorme dormindo, não acompanhando os passos do desenvolvimento nacional, nós não tínhamos estrutura nenhuma de energia, de transporte, de ferrovia, de rodovia, nada. E nas cidades você mal encontrava um hospital. Quer dizer, era um Estado realmente atrasado, teria que transformar isto. Agora, transformar de que forma? No momento que você manda seus alunos estudar fora… porque naquele tempo o nosso pessoal ia buscar o ensino superior em São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e este pessoal não voltava. E nós precisávamos deste pessoal para fazer estas transformações, então tínhamos dois caminhos abrir a Universidade Estadual: trazer tanto quanto possível de volta outros alunos e não permitir que aluno novo nunca mais saísse do Estado para buscar o ensino. Então este foi o sentido da criação das universidades estaduais de Campo Grande e de

Cuiabá. E realmente deu certo e elas acabaram sendo federalizadas depois da divisão do Estado. Hoje a Federal de MS tem 20 mil alunos, se isso não ajuda a mudar, não ajuda a transformar, eu não entendo mais nada! É evidente que transforma, que tudo se modifica no sentido positivo. Então este foi o sentido daquelas universidades naquela ocasião. Porque os alunos iam todos para fora, nós tínhamos que segurar estes agentes, exatamente a nossa melhor inteligência que é o jovem.

A diferença da UEMS é que já foi com preceito constitucional, nós não entramos nem no mérito da ocasião, era implantar para obedecer à lei e fizemos isto. E fizemos o melhor que foi a formação do professor, pouca gente teria coragem de fazer este tipo de opção, porque ela não dá muito prestígio. O prestígio era colocar uma faculdade de Direito, Medicina, Engenharia em cada município. Mas no todo não era isto que o Estado estava precisando.

A UEMS foi a mais fácil, pois já era um preceito constitucional, o que eu fiz realmente foi cumprir a lei, mas eu podia cumprir somente por obrigação, ao contrário disso eu cumpri com um enorme de um prazer e ela veio de encontro exatamente com a minha vontade. Aquilo que eu pensava que seria o certo acabou sendo o certo e adotado.

Produzido por Eduarda Rosa e André Mazini (ACS/UEMS e Projeto Mídia & Ciência)